Mudanças climáticas na percepção dos brasileiros

09/03/2022

De acordo com pesquisa, 96% da população acredita que o aquecimento global está acontecendo e é preciso agir

Por Aline Souza – jornalista e comunicadora do IDS

Pesquisa do Instituto de Tecnologia e Sociedade – ITS em parceria com o Programa de Mudança Climática da Universidade de Yale (Yale Program on Climate Change Communication) ao Ipec Inteligência e ICS – Instituto Clima e Sociedade mostrou a percepção dos brasileiros sobre as mudanças climáticas e as queimadas na Amazônia. Em 2021 foram realizadas entrevistas telefônicas para conhecer a percepção dos brasileiros a respeito de questões relativas ao clima e ao meio ambiente, foram 2.600 entrevistas entre a população brasileira com 18 anos ou mais. A pesquisa é realizada pelo segundo ano consecutivo e merece algumas considerações.

Uma informação importante para entender essa percepção brasileira é saber por onde as pessoas se informam sobre o tema: 87% dos entrevistados apontaram que se informam por conversas com parentes, amigos e colegas de trabalho, 71% via sites na internet, 70% em whastapp, 66% via redes sociais, 62% TV aberta, 49% rádio e 31% jornais e revistas impressos. Os meios tradicionais de informações são os menos utilizados pela população para se informar, em contrapartida os meios digitais e as conversas com pessoas conhecidas são o canal principal.

Outro dado relevante sobre o conhecimento do tema é que 81% das pessoas acham muito importante a questão do aquecimento global, esse número era 78% em 2020. No entanto, somente 21% consideram saber muito sobre a questão, em 2020 esse número era de 25%. Muita gente preocupada, mas o conhecimento sobre o assunto ainda é muito baixo.

Quanto mais alta a escolaridade, maior é a preocupação com o meio ambiente. A preocupação ambiental é maior entre os brasileiros de classes A/B (88%) se comparada aos brasileiros da classe D/E (72%). O baixo índice de conhecimento sobre o tema também está presente entre aqueles que não acessam a internet com regularidade. O conhecimento está muito atrelado à educação formal, renda e poder aquisitivo.

Entre a população com a faixa etária de 55 anos ou mais se observou um ligeiro aumento entre essa preocupação que foi de 74% em 2021 em comparação a 65% em 2020. Existe uma tendência de que tais preocupações ambientais estejam mais presentes entre as pessoas que se consideram politicamente dentro do espectro da esquerda (88%), número que é igual para aqueles que se consideram de centro. Já para aqueles que se consideram de direita, esse número de 75%.

Sobre o paradoxo de proteção do meio ambiente x o crescimento econômico, é possível observar pela pesquisa que 77% consideram que proteger o meio ambiente é mais importante, mesmo que isso signifique menos empregos e menos crescimento da economia. A reposta contrária foi de 13%.

Mas é quase um consenso entre nós, uma vez que 96% dos brasileiros acreditam que o aquecimento global está acontecendo. Esse número era de 92% em 2020. Ainda bem que o negacionismo aqui não colou. Sobre as causas do aquecimento global, 77% da população acredita que são fruto da ação humana. Outros 11% acreditam que são resultados de mudanças naturais. E a maior parte dos brasileiros (90%) acreditam que o aquecimento global pode prejudicar muito as gerações futuras. Um prejuízo quase que imediato.

E quem pode contribuir para resolver as questões climáticas?

Para os brasileiros entrevistados, 37% responderam que são os governos, 32% empresas e indústrias, 24% os cidadãos e 4% as ONGs. Precisamos focar na responsabilização dos governos e empresas. As ONGs não precisam ser as “salvadoras”. Por isso, o trabalho de advocacy é cada vez mais relevante.

Sobre as atitudes em relação ao meio ambiente, foram feitas perguntas de cunho prático e também teórico. Por exemplo, em relação à reciclagem do lixo, onde 75% das pessoas afirmam que separam os resíduos em seus lares. Outro ponto interessante é em relação ao voto, 45% das pessoas afirmam que já votam em algum político em razão de suas propostas para a defesa do meio ambiente, desses 65% estão mais à esquerda, 55% possui ensino superior e 51% estão na faixa estaria de 18 a 24 anos.

Sobre as queimadas na Amazônia, 74% das pessoas discordam de que elas sejam necessárias para o crescimento da economia. Ou seja, já temos quase metade dos brasileiros fazendo escolhas políticas (nas eleições) baseadas na agenda ambiental e climática de candidatos e candidatas. Portanto, é nítida a percepção de que o papel governamental é muito importante para preservar a Amazônia e que os políticos devem ser (e são) responsáveis por soluções socioambientais.

Apenas 17% da população já participaram de manifestações ou de petições digitais sobre mudanças climáticas. E desses, 33% possui ensino superior, 32% estão mais à esquerda, 30% estão na faixa etária de 18 a 24 anos e 26% pertencem à classe social A/B.

Os dados foram apresentados em transmissão ao vivo no dia 9 de março com a presença de Rosi Rosendo, diretora do Ipec Inteligência; Sérgio Abranches, sociólogo, escritor e comentarista da CBN e Anthony Leiserowitz, diretor do Yale Program on Climate Change Communication, com a moderação do diretor-executivo do ITS, Fabro Steibel.

Para Sérgio Abranches, “as pessoas não precisam mais serem convencidas dos impactos da mudança climática. Elas já estão convencidas sobre o problema. Agora do que elas precisam é de informação (e ação) sobre as soluções necessárias”, disse.

Acesse a pesquisa completa em: https://www.percepcaoclimatica.com.br/

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Acompanhe também as rodas de conversa do IDS na agenda Espaços de Ativismo:

Emergência climática: como é possível construir um futuro sustentável?

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