Fim do silêncio

19/08/2021

Setores importantes do empresariado brasileiro se manifestam contra os ataques à Democracia

Por Aline Souza – jornalista e comunicadora do IDS

Maria Alice Setubal

Em entrevista para a BBC News em agosto, Neca Setubal, uma das fundadoras do IDS, atual associada, benemérita e ex-presidente do Instituto, falou sobre uma nova postura que parte do empresariado brasileiro tomou recentemente, se colocando radicalmente a favor da democracia. Com as constantes ameaças às instituições e a atual dúvida lançada sobre a realização de eleições no próximo ano praticadas por Jair Bolsonaro, algo mudou, segundo Neca, no costumeiro silêncio adotado pelos empresários do país.

Para ela, “isso acontece porque o governo federal tem uma influência muito grande nas empresas, nos diferentes setores, na alocação de recursos e na prioridade das políticas, o que gera dificuldade de manifestação pública com alguma crítica a posicionamentos governamentais”, avalia a educadora e socióloga. Neca, como é conhecida Maria Alice Setubal, é a presidente do conselho curador da Fundação Tide Setubal e herdeira do conglomerado Itaú, foi uma dos 267 signatários iniciais de um manifesto em defesa do sistema eleitoral e da ordem democrática, que posteriormente reuniu milhares de apoiadores.

Neca diz ter clareza de que a democracia brasileira está em risco. “Como tem sido amplamente discutido por sociólogos e politicólogos, os ataques à democracia do mundo contemporâneo, no século 21, normalmente não são dados através de golpes, mas pelo enfraquecimento contínuo [das instituições] a partir de dentro da própria democracia”, observa, citando como exemplos Trump nos EUA, Erdogan na Turquia, Orbán na Hungria, além das Filipinas, Venezuela e o próprio Brasil.

Para o tema ambiental, que é central para o desenvolvimento econômico do país, Neca diz que lamenta a perda de protagonismo do Brasil perante o mundo em função do atual governo federal. “O cenário é dramático e o relatório do IPCC da ONU foi absolutamente contundente quanto à importância que terá a COP 26 agora em Glasgow”, diz a pedagoga, citando a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2021, prevista para acontecer entre 31 de outubro e 12 de novembro na cidade escocesa. “O Brasil poderia ter um papel de liderança, como teve em outros tempos, mas infelizmente todas as políticas do nosso governo vão na direção contrária — no dia 9 de agosto, data de publicação do relatório, por exemplo, tivemos a publicação no Diário Oficial de uma lei de ‘carvão sustentável‘, quando o relatório indica a necessidade de acabarmos com a indústria baseada em carvão. ‘Carvão sustentável’ é uma coisa que não existe. Estamos na contramão do mundo”, afirma.

O Brasil é maior que Bolsonaro e está nítido que não há salvadores, senão nós, enquanto sociedade se comprometer com a construção do nosso país. “Cada um de nós tem que se responsabilizar pela construção de um novo país a partir de 2022. A visão conservadora de extrema-direita vai continuar aí, então no dia seguinte das eleições vamos ter que continuar lutando e trabalhando para a implementação de uma nova visão de mundo”, disse Neca.

O desafio agora é dialogar para além de nossas próprias bolhas.

Para ler a entrevista completa e na íntegra acesse BBC News

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