02/12/2025
Há um rumor de que o Brasil poderia negociar suas reservas de Terras Raras com os Estados Unidos como forma de retomar uma relação diplomática estável e isenta de tarifas e sanções. Seria, mais uma vez, o país entregar uma riqueza potencialmente transformadora da economia nacional, como uma comodity sem valor agregado.

O Brasil, com a segunda maior reserva de terras raras do planeta, se encontra em uma posição estratégica no xadrez geopolítico global. Esses 17 minerais, essenciais para tecnologias de ponta, como veículos elétricos e turbinas eólicas, se tornaram o novo foco de uma disputa por recursos. No entanto, a capacidade do Brasil de capitalizar essa oportunidade esbarra em desafios estruturais profundos: a persistente desigualdade, a concentração de riqueza em poucos estados e a falta de uma estratégia nacional robusta.
A história do Brasil como exportador de commodities de baixo valor agregado, como minério de ferro e soja, se repete no campo das terras raras. A China domina o refino e o processamento, controlando quase 90% do mercado. Isso significa que, sem a capacidade de industrializar o minério, o Brasil corre o risco de permanecer um mero fornecedor de matéria-prima, com a maior parte do valor agregado sendo gerada em outros países. O projeto MagBras, que atua para desenvolver toda a cadeia produtiva, da mineração à fabricação de ímãs permanentes, é um passo importante, mas sua escala e ambição precisam se alinhar a uma visão de longo prazo.
A soberania sobre os recursos naturais é mais do que um conceito; é uma necessidade estratégica. Em um mundo cada vez mais competitivo, onde o acesso a minerais críticos define o poder econômico e militar, o Brasil não pode entregar o controle de seus recursos. No entanto, a falta de um plano nacional para o desenvolvimento de competências em mineração e metalurgia é um obstáculo real. Sem investimento em pesquisa, tecnologia e qualificação de mão de obra, a “industrialização verde” que se vislumbra para a transição energética global pode passar ao largo das fronteiras brasileiras.
A distribuição desigual da riqueza no Brasil agrava o problema. A exploração de terras raras, se não for acompanhada de políticas públicas que garantam o desenvolvimento regional e uma governança inclusiva junto a comunidades locais, pode apenas aprofundar as desigualdades existentes. A concentração de projetos em poucos estados, como Minas Gerais e Goiás, pode deixar vastas regiões do país à margem dos benefícios. Para que as terras raras se tornem um motor de desenvolvimento social, é preciso que os lucros sejam reinvestidos em educação, saúde e infraestrutura, com grande rigor nas medidas proteção ambiental
O desafio é complexo, mas a janela de oportunidade está aberta. As disputas geopolíticas e a busca por cadeias de suprimento mais seguras criaram um cenário favorável para países com reservas abundantes. Para que o Brasil se posicione como um líder e não um coadjuvante, é imperativo que o governo, a indústria e a sociedade se unam em torno de um projeto nacional de industrialização. Isso exige mais do que apenas extrair o minério; exige um plano estratégico para processá-lo, agregar valor e construir a base de uma nova economia tecnológica e sustentável. A riqueza está no subsolo, mas o verdadeiro potencial para o desenvolvimento econômico e social do país está na capacidade de inovar através do domínio de tecnologias para a indústria do século21 .
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