Retomada Econômica Verde – A experiência chinesa

25/08/2022

O Seminário Retomada Econômica Verde – A experiência chinesa reuniu três especialistas e pesquisadores em estudos sobre a economia do país mais populoso do planeta. Cada um fala de uma perspectiva distinta e com dados que ajudam a formar um quadro da diversidade e multiplicidade de um dos países mais complexos do mundo. Participam Lauri Myllyvirta, Renato Roldão e Eduardo Viola.

Lauri Myllyvirta| Lead Analyst no Centre for Research on Energy and Clean Air, organização com foco em pesquisas relacionadas aos impactos da poluição do ar na saúde pública; 

Desde o início do século 21 a China tem investido fortemente em infraestrutura para oferecer suporte a um crescimento econômico exponencial. Com quase 1,5 bilhão de pessoas, o país tem forte preocupação com questões relacionadas à segurança alimentar e saúde pública. E, neste ponto, a poluição ambiental tem se colocado como um dos principais problemas de saúde pública, juntamente com os impactos das mudanças climáticas.

Com a entrada do país na Organização Mundial do Comércio (OMC), em 2001, a economia passou por um ciclo de transformações com fortes investimentos em ferrovias, estradas e grandes obras de infraestrutura, principalmente após a crise de 2008, quando um pacote de investimentos deu mais fôlego a esse ciclo de crescimento. A partir de 2013 começou-se a tentar uma reversão do modelo de desenvolvimento tradicional para um formato limpo e de baixo carbono. A sociedade chinesa já demonstrava uma grande preocupação com os problemas causados pela poluição do ar.

O país é o maior emissor de carbono do mundo e, nos últimos anos, está trabalhando para se afastar desse recorde indesejável. Seus números de emissões registraram queda recente, creditada principalmente à controle do governo à especulação imobiliária e às restrições impostas para o controle da pandemia de Covid19. Os planos do governo apontam para uma neutralização de carbono até 2060.

Entre as principais medidas tomadas em 2013 está o controle do uso de carvão na geração de energia e nas indústrias. O governo estabeleceu limites rígidos para o uso desse combustível fóssil. A política industrial da China foi redirecionada para a produção com baixas emissões e maior valor agregado. Parte importante dos investimentos tem sido em energias limpas com foco em solar, eólicas e nucleares, que precisam ser alavancadas em pelo menos 10 vezes até 2050. A expectativa é de que em cinco anos o país implante o dobro do que os Estados Unidos conseguiram instalar até agora.

No centro da estratégia de baixo carbono da China está a eletrificação de quase tudo. Indústrias, transportes, aquecimento e tudo o mais que seja movido a energia deve passar pela transição necessária para que o país atinja suas metas de descarbonização. E essa energia elétrica será produzida por fontes limpas e renováveis.

O projeto de descarbonização se assenta em quatro pilares, a siderurgia, que deve ser modernizada para o uso de hidrogênio verde, redução no consumo de cimento, produção de amônia com eletricidade e fortalecimento do uso de biomassa.

Renato Roldão| Vice-presidente e Managing Director no ICF Climate Center, na China, consultoria que atua nas áreas de tecnologia e políticas públicas.

Uma das preocupações que o governo chinês deve ter é com o impacto social da transição econômica e como as políticas vêm sendo desenhadas e implementadas. Um exemplo é quando se analisa a mineração de carvão é preciso assegurar que os trabalhadores sejam assegurados e precisam ser requalificados para outras atividades da nova economia.

Uma das estratégias da China é utilizar seu poder de barganha entre os grandes produtores de energia, que são estatais, para construir alianças com grandes empresas e associações dos setores de aço, química e cimento. Ajuda muito o fato de que as pessoas entendem o problema e se engajam para tornarem-se parte da solução.

A China almeja tornar-se uma liderança em finanças verdes, para trazer novas modalidades de investimentos e alavancar o crescimento do país em direção a um futuro mais verde e sustentável.

Eduardo Viola| Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (1982) e realizou pós-doutorado em Mudança Ambiental Global na University of Colorado at Boulder (1990-1991), pesquisador Sênior do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, Professor Titular do Programa de Pós-graduação em Relações Internacionais da Universidade de Brasília, Professor Colaborador da Escola de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas, SP e Pesquisador Nível 1B do CNPq. 

O pesquisador Eduardo Viola tem uma visão mais pessimista sobre a posição da China em relação à busca global por modelos econômicos mais limpos. Para ele não é correto dizer que o país está em transição para uma economia de baixo carbono. As emissões da China, considerando as emissões do ano de 2000 a 2019, foram de 62% da emissão de carbono global a cada ano. E agora, em 2020, eles estão emitindo 20% das emissões de carbono total. Então, esses dados mostram que a China não é um player responsável globalmente.

Uma dificuldade que a China enfrenta é que ela é um poder global em competição do os Estados Unidos e hoje tem emissões per capita maiores do que a média global e muito maior do que a União Europeia e o Reino Unido. Impressiona mais o desenvolvimento da energia Nuclear na China do que a solar e a Eólica. Estão gerando energia nuclear que é chave para muitos países do mundo. Algo muito semelhante na França, mas diferente da Alemanha. Os EUA também estão indo para a energia nuclear. 

A prioridade da China é maximizar, consolidar e continuar o monopólio de poder pelo partido comunista. O poder do partido e percepção do partido é que tem de crescer muito rápido para manter o apoio ao partido.  A meta de transicionar para uma economia de baixo carbono é claramente subordinadas a essa meta maior do poder nacional e global. A transição na China é mais um discurso do que a realidade.

Assista o seminário na íntegra:

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