Encontro de lideranças da Mãe Terra

18/08/2023

A luta dos Mebengokre e do Cacique Raoni resume a luta de todos os povos indígenas: terra, cultura e dignidade

Nos dias 24 a 28 de julho, centenas de lideranças atenderam ao “Chamado do Cacique Raoni – Grande encontro das lideranças guardiãs da Mãe Terra”, na Aldeia Piaraçu, território Kayapó em São José do Xingu, Mato Grosso.  

A convocação feita pelo Cacique Raoni Metuktire reuniu representantes do governo, lideranças indígenas e convidados para discutir o marco temporal, a defesa da floresta e as ações para a mitigação das mudanças climáticas. “Se nós não cuidarmos da nossa terra e de nossas florestas, se deixarmos desmatar tudo, todos vão sofrer com as mudanças climáticas, com o intenso calor e com a poluição do ar. Faz tempo que eu tenho alertado o mundo, mas é preciso continuar alertando vocês”, disse Raoni em um vídeo em que faz o chamado.

Durante o encontro, apoiado pelas lideranças que atenderam ao seu chamado, o Cacique Raoni entregou à ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, um manifesto com as prioridades da agenda indígena. O documento traz as demandas foram acertadas em reuniões com as lideranças, entre jovens, mulheres e anciãos. Os principais pontos são o posicionamento contrário ao marco temporal e o cumprimento de tratados que garantem a proteção dos povos indígenas. Essas demandas da carta-manifesto também foram levadas por Raoni para a Cúpula da Amazônia.

Entre as reivindicações, estão a retirada de garimpeiros invasores de terras indígenas, inclusão dos povos indígenas em negociações do mercado de carbono e criação de uma secretaria especial de educação indígena. Também foram reivindicados o fortalecimento de órgãos do governo como o Ministério dos Povos Indígenas, Funai e Secretaria de Saúde Indígena (Sesai).

Durante o evento, Joênia Wapichana, presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), anunciou a aprovação dos estudos de Identificação e Delimitação da Terra Indígena Kapôt Nhinore. A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara representou o governo Lula em resposta ao chamado de Raoni.

Na imagem, da esquerda para a direita: Joenia Wapichana (Advogada, ex-deputada federal e atual presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI), Raoni Metuktire (liderança indígena), Sônia Guajajara (ministra dos Povos Indígenas do Brasil)

O Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS) pode acompanhar e apoiar a delimitação e homologação das terras indígenas, entendendo-as como instrumentos de consolidação de direitos e cidadania. Marcos Woortmann, coordenador de Políticas Socioambientais do IDS, ressaltou a importância do apoio ao movimento, destacando: “A dívida histórica do Brasil com os povos indígenas é não apenas do Estado brasileiro, mas do país como um todo. Estarmos presentes, solidários e apoiando essa causa tão justa é um compromisso democrático do IDS”. 

Para Marcos, espera-se que com o novo ciclo político que está se direcionando para a COP 25 no Brasil é uma oportunidade de dar maior atenção à gestão territorial dos povos tradicionais, principalmente pelos órgãos públicos e pela própria sociedade civil. 

Cacique Raoni Metuktire

O Cacique Raoni Metuktire é reconhecido internacionalmente e já foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz em 2020, como reconhecimento à defesa das culturas tradicionais e à preservação dos territórios indígenas.

Marcos Woortmann destaca que Raoni, de jovem líder de um povo que fez contato com os irmãos Vilas-Boas, tornou-se “um líder histórico e mundial para a causa indígena, sendo recebido por chefes de estado, monarcas, papas, celebridades e parlamentos, e merece o mesmo nível de respeito e escuta em seu país natal, o Brasil”, acrescenta.

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