Como investir na infraestrutura de transportes da Amazônia de maneira sustentável?

18/10/2016

 

Por Júlio Bardini 

“Integrar para não entregar”, era o que se dizia na segunda metade do século XX em relação à Amazônia e a necessidade de se investir na região; integrá-la ao restante do país como forma de manter a soberania de fato. Mas passadas décadas desde que esta frase foi dita pela primeira vez, a situação hoje é diferente no que toca o desenvolvimento da região. Atualmente, a Amazônia é um local-chave para o país no plano econômico, com os investimentos em logística na região visando consolidar sua posição no cenário internacional como grande exportadora de commodities, sem depender de outras regiões do Brasil.

Buscando debater o tema da logística intermodal de transportes na Amazônia, o IDS promoveu, em parceria com o Instituto de Estudos Avançados da USP (IEA/USP) e o Centro Alemão de Ciência e Inovação (DWIH-SP), o encontro “Hidrovia, ferrovia e rodovia: logística intermodal, desenvolvimento e conservação” no último dia 21, como parte do ciclo “Desafios para uma Amazônia Sustentável”. Ao longo do debate, foram abordados os principais projetos relacionados à logística intermodal na Amazônia, bem como sua importância econômica regional, desenvolvimento socioambiental e a importância da criação de uma agenda sustentável neste âmbito.

Atualmente, a Região Amazônica é chave para a economia brasileira, se tornando grande exportadora de commodities e outros produtos, com os grandes investimentos em logística se dando para que esta não dependa de outras regiões do Brasil. Mas neste contexto de crescimento econômico e aumento de importância no cenário nacional é imprescindível que a demanda por logística de transportes seja aliada às características e ao contexto socioambiental local. A construção de estradas e ferrovias é sem dúvida essencial, mas é fundamental que esteja de acordo com as necessidades locais.

A busca pela diversificação dos modais viários utilizados no transporte de cargas tem promovido investimentos na região, principalmente em forma de concessões. O governo federal aparece como principal incentivador desta modalidade, promovendo por meio de iniciativas como o Programa de Investimento em Logística (PIL) – que passará a integrar o Programa de Parcerias de Investimento da atual administração – investimentos totais de cerca de 70 bilhões de reais entre rodovias, ferrovias, hidrovias e portos na região, buscando desenvolver os modais de transporte para escoamento de mercadorias e geração de empregos[1]. Entre os principais trechos previstos no projeto, destacam-se as rodovias BR-163, BR-346 e BR-364, bem como a ferrovia Ferrogrão e trechos da ferrovia nacional Norte-Sul e da internacional Bioceânica.

Conforme aponta o pesquisador Sergio Margulis, cerca de 95% de todo o desmatamento da Amazônia ocorreu em uma faixa de até 5,5km de alguma rodovia, ou a 1km de algum rio navegável. Trata-se de dados alarmantes quando pensamos no grande ativo socioambiental que se perde no processo. Para que este cenário se reverta, a implantação de políticas públicas para conservação é essencial. Para o também pesquisador Arnaldo Carneiro Filho, sob esta ótica a logística tem como uma de suas principais características agir como instrumento modelador de território: ela pode tanto criar uma “agenda marrom”, quanto criar uma agenda positiva. Sendo assim, é preciso que todo o processo decisório se dê com base no olhar sobre a região e como os investimentos neste tópico agirão sobre ela: se a decisão foi tomada por um determinado modelo de infraestrutura, como se desenhará agora o território, como prepara-lo para receber essa infraestrutura? É neste momento que políticas de governança devem ser implementadas, visando garantir a sustentabilidade destas iniciativas e a garantia dos benefícios para a população.

Assista ao vídeo completo do debate em: goo.gl/OSYUW8 

O encontro “Hidrovia, ferrovia e rodovia: logística intermodal, desenvolvimento e conservação” ocorreu no dia 21/9, no auditório do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo e fez parte do ciclo “Desafios para uma Amazônia sustentável”, promovido pelo IDS em parceria com o IEA/USP e o Centro Alemão de Ciência e Inovação de São Paulo (DWIH-SP).

 


[1] Dados do Ministério do Planejamento, disponíveis em <http://www.planejamento.gov.br/apresentacoes/apresentacoes-2015/minister-nelson-barbosa-presentation/view>.

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