Combinando finanças, territórios e saberes, debate propõe caminhos para viabilizar US$ 1,3 trilhão até 2035

15/08/2025

Ciclo de debates preparatórios para a COP30: Financiamento para a Transformação Ecológica Justa: caminhos para mobilizar US$ 1,3 trilhão até 2035

O Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS) promoveu o seu 2º debate preparatório para a COP 30, com foco no Financiamento para a Transformação Ecológica Justa. Especialistas de diferentes setores expuseram diagnósticos e propostas para viabilizar, até 2035, cerca de US$1,3 trilhão anuais em fluxos alinhados à mitigação, adaptação e justiça socioambiental.

Na abertura, a presidenta do IDS, Dulce Maria Pereira, delineou os principais eixos de discussão. “A proposta é justamente reunir diferentes perspectivas, tanto técnicas quanto políticas, territoriais e setoriais, para refletir sobre os mecanismos financeiros, regulatórios e multilaterais que promovam, de fato, a justiça climática.” 

Luciane Moesa, fundadora e diretora executiva da SIS – Soluções Inclusivas Sustentáveis, ressaltou que não basta agregar recursos: é preciso interromper o financiamento de atividades que agravam a crise. “A gente pode investir 3 trilhões de dólares em mitigação e adaptação, mas se a gente continuar financiando as atividades que causam as mudanças climáticas, o problema não vai estar resolvido”. Ela defendeu revisão de subsídios e tratamento tributário diferenciado para incentivar iniciativas verdes.

O associado sênior do think tank E3G, Gustavo Pinheiro, alertou para a persistência de narrativas contrárias à urgência climática. Referindo-se a práticas de relações públicas da indústria de combustíveis fósseis, afirmou: “Essa narrativa é fake news, fruto de lobby, propaganda de uma indústria que precisa acabar ou o planeta Terra vai se tornar inabitável para as próximas gerações”. Segundo Pinheiro, desconstruir esses discursos é tão importante quanto criar novos instrumentos de financiamento.

A consultora Tainá Marajoara trouxe ao debate dados sobre agricultura de base local. “Sistemas alimentares de pequena e média escala são garantidoras de 70% daquilo que se come, mas recebem menos de 1% do financiamento climático global”. Para ela, reconhecer essas práticas tradicionais é essencial à integridade da transição.

Em seguida, Karen Oliveira, diretora de Políticas Públicas e Relações Governamentais da The Nature Conservancy Brasil, criticou a ineficiência e defendeu mecanismos de repasse direto a comunidades tradicionais, sem intermediários onerosos, e “instrumentos flexíveis, de longo prazo, que valorizem características locais e permitam cobrir custos operacionais e de pessoal”.

Em suas considerações finais, o diretor adjunto do IDS, Marcos Woortmann, fez um apelo à seriedade e à coragem política. “Eu acho que a gente tem que ter coragem e entender que aquilo que nós estamos querendo não é nada radical, é o mínimo das condições de vida para manutenção, inclusive de um sistema que depois a gente vai precisar reformá-lo profundamente”.

Ao encerrar, Dulce Maria Pereira reforçou que a mobilização de US$1,3 trilhão anuais dependerá não apenas de novos instrumentos financeiros, mas de um redesenho das governanças que integre saberes científicos, territoriais e ancestrais. “Sem combinar revisão de incentivos fiscais, taxonomias integradas e canais descentralizados, jamais alcançaremos esse patamar sem deixar para trás os mais vulneráveis”, advertiu.

O debate evidenciou que os compromissos de financiamento climático para a COP 30 exigem tanto recursos quantificáveis quanto a disposição de enfrentar narrativas e estruturas que hoje perpetuam a crise climática.

Assista ao debate na íntegra no canal do Youtube @idsquequeremos.

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