Alternativas para uma educação democrática e sustentável

27/07/2015

No início do mês de julho, entre os dias 8 e 11, ocorreu em Portugal o 3º Congresso Internacional de Educação Ambiental dos Países e Comunidades de Língua Portuguesa (www.ealusofono.org). Organizado pela Associação Portuguesa de Educação Ambiental (ASPEA), o encontro contou com a participação de cerca de 450 pessoas representando 15 países diferentes, em conferências, minicursos, mesas redondas e oficinas.

De acordo com a Rede Lusófona de Educação Ambiental (REDELUSO), o objetivo do congresso foi de “(…) proporcionar uma multiplicidade de olhares que cruzam com o campo da Educação Ambiental dos países, regiões e comunidades falantes da língua portuguesa, além de fomentar o amplo debate no fórum promovido pela Rede Lusófona sobre o tema ‘Educação Ambiental e Participação Social: travessias e encontros para os bens comuns’”. Organizado em dez eixos temáticos, o encontro levou em consideração duas referências internacionais importantes: o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global (1992) [1] e da Carta da Terra (2000) [2].

Um dos representantes da academia brasileira foi Pedro Roberto Jacobi[3], sociólogo, professor na Universidade de São Paulo (USP). Jacobi liderou a apresentação intitulada “Aprendizagem social face às alterações climáticas: desafio de inovar para mobilizar”, a partir da qual se gerou o debate acerca das dificuldades encontradas no processo de aprendizagem social no que se refere às alterações climáticas e a participação do ser humano nesse processo. Em seu artigo “Educação ambiental: o desafio da construção de um pensamento crítico, complexo e reflexivo”, publicado em 2005, Jacobi esclarece o conceito de reflexividade: “a sociedade, produtora de riscos, torna-se crescentemente reflexiva, o que significa dizer que ela se torna um tema e um problema para si própria.”

O IDS interpreta a educação como um dos pilares indissociáveis para o desenvolvimento de políticas públicas de vanguarda no Brasil e a construção de uma sociedade sustentável por meio da educação. De forma consonante com a proposta do Congresso Internacional de Educação Ambiental, a Plataforma Brasil Democrático e Sustentável[4] contribui com propostas específicas sobre o assunto, sobretudo em seu eixo de Educação para a sociedade do conhecimento. Ao considerar a situação atual da educação pública brasileira, a Plataforma IDS propõe ampliar o investimento público de forma a garantir o montante de 10% do PIB, conforme orientado no Plano Nacional de Educação. Ademais, é necessário criar mecanismos para viabilizar a participação social no monitoramento e controle desse recurso. Para que a aplicação do recurso tenha efetividade, é necessário investir na capacitação técnica e financeira aos estados e municípios.

Algumas iniciativas atuais trabalham com a pauta da educação democrática e propõem alternativas dentro dessa perspectiva e que, portanto, considere os valores e princípios da sustentabilidade. Uma destas será a 2ª edição da Conferência Nacional de Alternativas para uma Nova Educação (CONANE), que ocorrerá de 5 a 7 de setembro em São Paulo. Este encontro representa uma das diversas iniciativas que estão surgindo na sociedade brasileira a fim de refletir e compartilhar possibilidades de avanço no processo educacional brasileiro, as quais considerem valores como autonomia dos educandos e educadores, cultura de paz, horizontalidade de relações, ética do cuidado e sustentabilidade. O evento contará com a presença de renomados educadores do mundo, bem como projetos inovadores da sociedade civil.

É importante pontuar que tais princípios e valores são defendidos há tempos por importantes educadores, referências no debate e crítica acerca do processo de ensino-aprendizagem existente. Dentre eles encontram-se Paulo Freire (Pedagogia da autonomia, 1996), Moacir Gadotti (Educar para a sustentabilidade, 2008) e José Pacheco (fundador da reconhecida Escola da Ponte em Portugal).

Portanto, as iniciativas existentes e a opinião de educadores renomados representam importante alerta para que a maneira como a educação acontece seja repensada, e que o processo seja adaptado à realidade e necessidades da sociedade do século XXI. Eventos como o Congresso Internacional de Educação Ambiental dos Países e Comunidades de Língua Portuguesa e a CONANE são representativos pelo fato de que sinalizam a existência de alternativas concretas para a educação brasileira. Dessa forma essa mudança tem de dialogar com os princípios e valores da educação democrática e sustentável e orientar para que estes possam ser traduzidos em ações concretas do dia-a-dia dos educadores e educandos.

*Por: Guilherme Checco; Edição: Juliana Cibim


Links Consultados

[1] Disponível em: http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/educacaoambiental/tratado.pdf

[2] Disponível em: http://www.mma.gov.br/estruturas/agenda21/_arquivos/carta_terra.pdf

[3] Pedro Jacobi, por meio da parceria entre IDS e IEE/USP, contribui na construção do projeto denominado “A comunicação da gestão e da governança das políticas públicas à luz da escassez hídrica no estado de São Paulo”. Para saber mais sobre a parceria, acesse: https://www.idsbrasil.org/pages/viewpage.action?pageId=30834855

[4] Disponível em: https://www.idsbrasil.org/pages/viewpage.action?pageId=19038480


 

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