Presente e futuro das lutas do IDS

19/12/2024

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Ricardo Young, presidente do Instituto Democracia e Sustentabilidade faz uma avaliação de 2024 e aponta para o futuro com a ambição de quem conhece as responsabilidades e o potencial do IDS.

Durante o ano de 2024 o IDS criou, cocriou e assumiu responsabilidades importantes em projetos ligados à Reforma Tributária Sustentável, à Economia Verde e às suas pautas históricas, como Clima e Biodiversidade, Formação e Cidadania, Governança Democrática e Segurança Hídrica, além de seu alinhamento com os princípios e metas do 17 Objetivos Sustentáveis da ONU. Para avaliar um pouco o que foi feito e projetar um futuro desejável e realizável para 2025 ISD Opina conversa nesta última edição de 2024 com Ricardo Young, presidente do Conselho do IDS.


Ricardo enxerga do IDS uma organização com foco na diversidade e que tem na democracia seu principal valor, condição estrutural para a construção e sociedades e governança sustentável. “Nesse momento de nossa história, a sustentabilidade convoca todos, sejam agentes públicos, privados ou de organizações sociais”, diz o executivo do IDS. O que está em jogo é uma multiplicidade de interesse que precisa ser harmonizada para o maior interesse da humanidade e da vida no planeta. “Estamos falando em sustentabilidade para além do antropocentrismo, o foco deve ser a regeneração das condições necessárias à vida no planeta, um ecossistema do qual a civilização humana é parte e responsável”, explica. Para ele a ação humana na Terra já atingiu o ponto limite do antropocentrismo. “As crises de perda de biodiversidade e climática formam uma “tempestade perfeita, que está chegando com muita antecipação em relação às previsões dos cientistas”.

Além das crises ambientais, que atingem biomas, a vida e o clima, o mundo está vivenciando uma crise da democracia em muitos países, perceptível pelo esgarçamento do multilateralismo e a degradação das forças de diálogo e mantenedoras da paz. “Guerras que imaginávamos extintas dada sua brutalidade, e uma visão imperialista que se acreditava que tinham sido superadas”, diz Ricardo. Ele acredita que esse cenário disruptivo reforça a necessidade da existência e dos trabalhos que o IDS faz.

“Acredito que o IDS tem dado uma contribuição importante: a primeira delas, a discussão sobre economia verde, porque a transição ecológica apresentada pelo governo é uma boa intenção, mas ela carece de uma visão de base, de uma visão matricial, ela não foge à lógica econômica tradicional que está levando a destruição da vida no planeta”, explica. Para ele, quando se fala em economia verde, o IDS está falando uma economia que serve a vida, uma economia que precisa estar voltada para Regeneração do planeta e dos ecossistemas como um todo. “Nesse aspecto o IDS tá dando uma boa contribuição, todos os seminários que nós estamos fazendo em torno da economia verde visam complementar e suplementar o conceito de transição ecológica” explica.

“Nós queremos uma maior radicalidade no sentido de que economia verde significa o novo sistema econômico, uma nova lógica econômica subordinada à sustentabilidade, e não o que ocorre hoje, que é a sustentabilidade subordinada lógica da economia”. Diz. O segundo ponto levantado pelo presidente do IDS é a Virada Parlamentar: “eu acho que os nossos deputados estão muito impunes, para usar uma palavra mais forte em relação à suas irresponsabilidades”, aponta.

Responsabilidade pública como base da democracia
Ricardo explica que a base da democracia é que a responsabilidade dos agentes públicos está na razão direta do cargo que ocupa. “Um deputado ou um senador eleito pelo povo não pode delinquir, mas há deputados delinquentes no Congresso”. Ele aponta a liberando a indústria de armas do Imposto seletivo como um exemplo que ele conheça porque o congresso quer que é uma porta para a criação de uma sociedade armada, com risco real de que as milicias e as facções criminosas se armem, e a sociedade se arme e, daqui a pouco, o Brasil esteja vivendo guerra civil.


“Decisões como essas são perigosas e a Virada Parlamentar Sustentável é um embate direto que fazemos, enquanto sociedade civil, com o Congresso”. Ricardo avalia que neste ano, o embate foi satisfatório. Mas ano que vem ele tem que ser muito mais radical e que o IDS tem de estar preparado. Outro aspecto importante de realizações IDS, foi a produção do da cartilha Bússola, porque nas eleições para prefeito de 2024, nenhum candidato relevante falou em mudança climática. “Rio Grande do Sul acontecendo, destruindo cidades, destruindo o tecido social, a coesão do Estado inteiro e os candidatos a prefeito se limitam a acusações mutuas”. 50% do tempo do debate eleitoral é uma tentando denegrir o outro. O fato é que a cidades não estão preparadas para crise climática e vão sucumbir. Esse ano um temporal na cidade de São Paulo deixou quase que 15% da população sem energia por vários dias, e até por semanas. Estes são exemplos de como as cidades não estão adaptadas para a crise climática. “Isso ainda não é prioridade para a política”, diz.


Logo, a Economia Verde, a Virada parlamentar Sustentável, a Reforma Tributária Sustentável e o Farol Verde são ações essenciais para a incidência do IDS sobre diversos temas da realidade do Brasil que precisam de uma maior diversidade de opiniões.


“D” de democracia
No entanto, Ricardo Young acredita que o IDS ainda tem áreas que precisam de reforço na atuação, em especial na democracia. “O IDS fica devendo na contribuição ao combate ao autoritarismo e ao namoro que a direita faz com a ditadura”, diz. Ele acredita que todos os esforços institucionais para abrir a “Caixa de Pandora” do golpismo deixam claro que a democracia brasileira corre riscos. Junte-se a isso a irresponsabilidade socioambiental dos parlamentares mais o namoro empedernido da extrema direita com autoritarismo, o risco aumenta e a responsabilidade do IDS cresce na mesma proporção.


Um olhar para a COP da Amazônia
O Brasil vai realizar em 2025 a COP 30, o mais importante encontro climático do mundo, e será na Amazônia brasileira, em Belém, capital do Pará. Ricardo diz que isso lhe dá “frio na barriga”.
E explica: “O Brasil vem se preparando para ter esse protagonismo climático, e o governo Lula tem colaborado para isso, mas acho que o país ainda não está preparado. Ele explica que os países que atingiram o grau de protagonismo global em temas importantes enfrentaram muitos desafios antes de assumirem essa responsabilidade.


Ricardo Young ressalta que o protagonismo brasileiro vem de seu tamanho, de ter uma grande parcela da floresta Amazônica em seu território e de ser um grande produtor de alimentos. Não temos uma estrutura militar profissional e nem uma capacidade de gestão pública capaz, o que ficou demonstrado com os problemas que o país enfrentou nas Olimpíadas e na Copa do Mundo. “São eventos de natureza diferente, mas igualmente planetários, que envolvem muitos recursos muitos investimentos em infraestrutura, área em que a experiência brasileira nos eventos esportivos foi vexatória”. Ele ressalta que cerca de 50% dos investimentos de infraestrutura não ficaram prontos em tempo para esses dois eventos. “O Brasil vai assumindo responsabilidade planetária, mas ao mesmo tempo, precisa da maturidade e da consciência necessária para isso”. Ele aponta os gigantescos desafios que a cidade de Belém vai enfrentar para acolher uma COP. “Não é só na questão do saneamento, de desigualdade social, é também na questão dos transportes, da infraestrutura hoteleira e assim por diante”, aponta. “Então, o primeiro ponto, que eu quero levantar em relação a Belém, que o Brasil vai assumir o nível de responsabilidade acima da nossa maturidade política tradicional, não digo que nós não vamos conseguir responder, mas eu digo que para poder responder essa altura de responsabilidade, nós temos que fazer uma lição de casa”.


Um sistema multilateral de controle das NDC
O segundo ponto, para que o Brasil seja efetivamente protagonista são dois fatores que exigem muita coragem. “O Brasil precisa propor um sistema multilateral, uma espécie de autoridade climática planetária para que os compromissos das NDC e todos os compromissos de limitação de emissão dos países possa ser monitorado, cobrado e punido”, explica.
Para ele estamos vivendo uma entropia do sistema multilateral planetário o que torna necessário que a COP afirme um caminho multilateral eficaz, para que efetivamente compromissos feitos sejam duradouros e sejam para valer. “Esse é um ponto que precisamos alcançar em Belém e o Brasil tem um papel fundamental de articulações”.


O segundo ponto destacado por Ricardo é que o Brasil “baixar crista”, e não chegar lá com uma visão ufanista, que faz parte. “Quanto mais ufanista as pessoas são, menos consciência planetária, porque o ufanista é nacionalista, é uma das expressões do nacionalismo”, explica.
Para ele o País não deve chegar na COP dizendo que somos o país com a maior matriz de energia limpa que temos a Amazônia e coisas d gênero. “Temos que chegar lá e dizer: olha embora tenhamos essa Matriz, embora tenhamos tudo isso, a crise climática pode mudar muito rapidamente”.


“Temos que entrar sem nos colocarmos como vítima, coitadinho, temos que nos colocar como um exemplo de que se a Comunidade Internacional não se organizar e não investir num novo sistema social econômico, uma nova lógica social Econômica, países com o Brasil que ainda tem vantagens comparativas vão passar a inverter o sinal”, explica.

Um momento para a Carta da Terra

A COP será, também, um momento para reavivar os princípios éticos da Carta da Terra. Afinal, no próximo ano completamos 25 anos de um dos principais documentos que definem como deve ser a relação da humanidade com o planeta. Haverá em Belém, durante a COP um evento para ampliar o conhecimento sobre a Carta e um debate sobre como ampliar o alcance civilizatório do documento. Esse, segundo Ricardo Young é um debate essencial, porque é preciso ampliar a discussão sobre sustentabilidade no planeta para além de questões políticas e econômicas. “O mundo precisa parar com essas discussões de métricas infinitas, o que importa é se a atividade empresarial tem um impacto positivo, regenerativo, ou negativo para a natureza”, explica. E reforça que os negócios predatórios têm de deixar de existir.


Quando a ONU lançou a Declaração Universal dos Direitos Humanos é um documento totalmente antropocêntrico, agora precisamos trabalhar pela vida, não importa a espécie, precisamos proteger e tornar segura a terra para todo tipo de vida. “A vida que é o único milagre cósmico conhecidos e, para as pessoas que que tem fé religiosa, a vida é a única manifestação concreta de Deus, é por isso que ela é sagrada”.


Um olhar para 2025
Ricardo Young reconhece o trabalho do IDS como uma contribuição relevante da sociedade civil com o desenvolvimento civilizatório do País, mas lembra que é uma atuação em áreas onde os recursos são escassos. “É uma equipe heroica com uma enorme capacidade de produção om recursos limitados”. Ele reforça que para 2025 o IDS tem de ter uma forte incidência sobre a COP 30, não apenas institucionalmente, mas sobre as pessoas, para que as discussões não se limitem a estratégias de procrastinação, mas de efetivo comprometimento com a transição para uma economia regenerativa e de respeito à vida em todas as suas manifestações.


Os eixos do IDS para 2025
O IDS irá trabalhar em 2025 e em relação à COP 30 em alguns eixos. O primeiro é radicalizar o Farol Verde e expor todos os parlamentares que não estão contribuindo para o avanço da sustentabilidade do País. Além dessa exposição pública, será preciso colocá-los contra a parede em relação a Belém.

Emendas para Belém

O Farol Verde, passa a ter um papel fundamental para mostrar para a sociedade o desempenho dos parlamentares em votações importantes, como a reforma tributária e a transição econômica verde, mas ir além, o que eles efetivamente estão produzindo para a COP, que emendas parlamentares estão sendo utilizadas para COP, para a cidade de Belém, para melhorar a infraestrutura, para fazer com que a gente não passe vexame. “Nosso pessoal em Brasília vai ter que trabalhar bastante nessa agenda”, diz.


O segundo eixo da atuação do IDS será a Virada Parlamentar, uma frente da sociedade civil que vai lá no Congresso e fala de cara a cara com deputados e senadores. Ele aponta que essa Virada vai ser uma virada de cobrança do Congresso em relação a todos os aspectos que precisam avançar na COP, em Belém e. se possível. Fazendo a exposição desses compromissos do Congresso em relação a COP e dar publicidade a eles.


Ouro ponto importante é que as discussões sobre o mercado de carbono já estão ficando velhas e ainda não conseguimos implantar um mecanismo de fato capaz de servir ao planeta. “A questão agora é o mercado de água”, diz Ricardo apontando que a escassez do recurso já ameaça a vida de milhões de pessoas e as chuvas torrenciais, também. Isso quer dizer que será preciso angariar recursos para a regeneração de matas ciliares, de florestas produtoras de água e para a gestão moderna da água, com maior capacidade de armazemanento em regiões secas e de vazão nas regiões com excesso, como o Sul do Brasil.


Reforçando a importância da Carta da Terra, organização da qual Ricardo também é presidente, ele coloca que o debate sobre a ética das decisões políticas, econômicas, ambientais e sociais é central para a mudança de paradigmas da gestão pública e das empresas. “. Ninguém vai dar aula e moral e ética, mas o mundo precisa ser alertado de que as premissas da economia e da política só servem às concentrações, e que nós vamos fazer no plano da sustentabilidade”. Ele explica que a sustentabilidade é mais prioritária do que questões ligadas a acordos econômicos multilaterais.


O presidente do IDS alerta que não serão tempos fáceis, mas temos que nos preparar para o pior, não no pior no sentido fatalista. Nos preparar para o pior entendendo que esse modelo faliu e precisamos construir outro. Quanto mais demorar para construir outro, mais perdas teremos nesse modelo, mais as populações vulneráveis serão vítimas. “Então nós temos que acelerar a construção do novo modelo e esse é o desafio e, talvez o pior virá como elemento de persuasão necessário para que as autoridades”, conclui.

Confira essa entrevista na íntegra no nosso canal do Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=toowtR1cuTY

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