10/06/2024
Os dilemas para a manutenção de uma matriz limpa para o Brasil
Energia, em suas diversas formas, é o insumo que move o mundo. Em tese, o Brasil é um país privilegiado para enfrentar os desafios da demanda de energia neste século. Já parte de uma base de produção de energias limpas considerável. No entanto, manter essa matriz privilegiada, e garantir a participação do setor no Plano de Transformação Ecológica, exige planejamento e investimentos. Esta é uma área em que a demanda futura precisa de previsão de longuíssimo prazo, e o mesmo pode-se dizer do retorno financeiro dos investimentos.
Usinas hidrelétricas fornecem atualmente quase 70% de toda a eletricidade, irrigando um grande sistema de distribuição que interliga cerca de 60 mil usinas, sendo que três delas estão entre as maiores do mundo: Itaipu, Belo Monte e Tucuruí. O Sistema Interligado Nacional faz fluir mais de 170 mil megawatts em uma rede básica de quase 150 mil quilômetros. Os dois sistemas, de geração e distribuição, exigem planejamento de longo prazo e são enormemente intensivos em capitais.
A geração de energia a partir dos ventos também tem sido um trunfo para o país. Em 2023, a capacidade produtiva das torres de geração eólica beirou 25 mil megawatts, com a vantagem adicional de beneficiar principalmente os estados do Nordeste, os maiores produtores. Esses dois modais de geração permitem a estabilidade da distribuição através do Sistema Interligado. Há ainda outra forma de produção limpa de eletricidade que cresce no Brasil, a geração solar distribuída, constituída por uma enorme quantidade de painéis que produzem energia fotovoltaica para abastecer diretamente casas, comércios e indústrias.
Em mais um evento da série Diálogos Setoriais, o Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS) e o Insper reuniram, em São Paulo, especialistas das duas organizações e de entidades convidadas para dialogar sobre o cenário energético brasileiro e a expectativa de alta na demanda ao longo das próximas décadas. Esta série de eventos pretende oferecer subsídios para a compreensão das interfaces do Plano de Transformação Ecológica, proposto pelo governo federal, e as principais atividades econômicas que sustentam o PIB nacional.
É importante lançarmos o olhar para este cenário sob a luz do Plano de Transição Econômica Verde, ressaltou Young. O ex-secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon dizia: “Estamos pisando fundo no acelerador em direção ao abismo”, e segundo do atual secretário-geral, António Guterres, que afirmou: “Estamos cavando nossa própria sepultura”.
Nelton Friedrich apontou que, na abertura, Ricardo Young mostrou como as transformações e inovações são necessárias para a transição verde, “pois esse potencial das energias de biomassas é parte dessa transição”. E prosseguiu: “é muito importante o investimento em tecnologias como eólica e solar, mas também é essencial pensarmos a quem essa energia deve servir. A desigualdade é um fator que desestrutura impulsos de avanços no Brasil. A crise não é apenas ambiental, é também social. É socioambiental”.
Para Anton Schwyter, gerente de Energia, Clima e Geociências da organização não governamental Instituto Internacional Arayara o setor elétrico no Brasil fatura R$ 300 bilhões por ano, o que mostra sua importância, tem 200 mil quilômetros em linhas de transmissão e chega a 95% dos domicílios do país. Temos 200 gigawatts em capacidade instalada de geração e 85% dessa geração é de renováveis. “Olhando por esse ângulo, parece que estamos no melhor dos mundos. E estamos, mas ainda temos muitas potencialidades a serem desenvolvidas”, afirmou. E completou: “precisamos acelerar a transição energética”. O alerta do economista é que há movimentos fortes pela perpetuação do uso de fósseis e isso está sempre presente em setores políticos e em alguns meios empresariais.
Christian Cecchini, especialista da Absolar contou que a geração fotovoltaica já representa 18% da matriz energética do Brasil, o que a coloca em segundo lugar entre as fontes de energia. A previsão é encerrar o ano de 2024 com a geração de 46 gigawatts contra 43 gigawatts na metade do ano. Isso é um crescimento exponencial. Essa expansão é liderada principalmente pela instalação de painéis de forma distribuída, em residências, comércios e indústrias, além de fazendas e outras atividades desconectadas das redes de distribuição.
Para o mediador Ricardo Young, o cenário parece com uma Babel, onde todos querem construir uma torre, mas falando línguas diferentes. A harmonização do sistema para a transição verde demanda uma integração de setores para o máximo aproveitamento de capacidades já dominadas. “Temos as habilidades, os diagnósticos e as tecnologias. Só precisamos aprender a dialogar. E esse é o trabalho que o Insper e o IDS estão fazendo com a série de Diálogos Setoriais”, concluiu.
Acesse o diálogo completo aqui na playlist do Youtube do IDS aqui.
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