Mesa Redonda reúne especialistas e imprensa para discutir abordagens e alternativas para a crise hídrica em SP

27/11/2014

Nesta quinta-feira (27), o Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS) e o Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente da USP (Procam-IEE/USP) realizaram a mesa redonda "Políticas públicas e escassez hídrica no estado de São Paulo: governança, transparência e alternativas para a crise", em parceria com o Data4Good e o Senac.

Os especialistas que participaram do debate foram: Rosa Maria Mancini, José Carlos Mierzwa, Renato Tagnin, Glauco Kimura, Stela Goldenstein, Pedro Roberto Jacobi, João Ramos (assessor do prefeito de Embu), Lucia Sousa e Silva, Rubens Filho e José Luiz Albuquerque.
 

Contexto

Ao acompanhar o desenvolvimento da crise hídrica no estado de São Paulo, as organizações resolveram abordar a questão segundo o olhar da imprensa. Desde fevereiro de 2013, foi notável o percurso da temática dentro da hierarquia jornalística,  partindo de notas esporádicas no caderno “cotidiano” para assumir espaços cada vez maiores – e mais nobres – nos periódicos, à medida que o problema ia se agravando e assumindo contornos políticos, mobilização social e repercussão internacional.

Diante desse cenário, o IDS e o Procam-IEE/USP realizaram o levantamento de notícias relacionadas à crise hídrica nos jornais: Folha de São PauloO Estado de São Paulo e O Globo. No total, foram analisadas 196 notícias, entre 31 de janeiro e 15 de outubro de 2014, com o objetivo de identificar as principais causas e origens da crise, os atores envolvidos, e as soluções apontadas pelos diversos setores e divulgadas pela imprensa.

O Data4Good elaborou um infográfico a partir dos dados levantados. Confira a apresentação aqui: http://bit.do/infoagua

A partir do levantamento, o ator que se destaca são os órgãos públicos, a principal causa apontada nas reportagens é a estiagem, motivo que foi mencionado 83 vezes pelas reportagens.  O cenário é considerado crítico, mas as soluções emergenciais apontadas não são avaliadas quanto a sua real efetividade. As soluções de médio e  longo prazos apresentadas nas notícias parecem confusas, pois não trazem de maneira objetiva o que precisa ser feito. Enfim, falta um sistema de alerta rápido e de esclarecimento à população sobre os contornos reais dessa situação.

 

QUEM ESTÁ FALANDO?

Do total de notícias avaliadas (196), o discurso oficial é, com ampla maioria, o mais reproduzido nas matérias. De 602 menções a entidades e atores no cenário da crise, 461 referem-se a organizações públicas, sendo as principais a Sabesp, a Agência Nacional de Águas e o Governo do Estado de São Paulo, ou seja, correspondendo a 77% de menções nas notícias analisadas. Por outro lado, a sociedade civil, a academia e grupos privados e internacionais são atores consultados com bem menos frequência, totalizando 141 menções, o que representa aproximadamente 23% de menções nas notícias analisadas.

Na tabela 1 abaixo são demonstrados os número de vezes que cada ator aparece nas 196 notícias analisadas:

 

Tabela 1: Atores

Ator

Número de vezes mencionado

Instituição Pública

461

Universidades

36

Comitês/consórcios

29

Associações de classe/grupos

28

Privada

15

Institutos meteorológicos

13

ONGs/movimentos sociais

11

Órgãos internacionais

9

TOTAL

602

 

O QUE ESTÃO FALANDO?

Das 196 notícias analisadas, 80 notícias não trataram da causa para a crise hídrica. Nas 116 notícias que abordaram a causa, 72% delas apresentaram a estiagem como a principal. Outros problemas levantados com menor frequência foram: má gestão e planejamento, mencionados 24 vezes (21%), e as alterações climáticas, mencionadas 11 vezes (9%). Negligência, desperdício, desmatamento, falta de informação e alteração do uso do solo (impermeabilização) aparecem, cada um, menos de 10% das vezes.

Como interpretar essas informações e qual o peso deve ser dado para cada um desses elementos?

Tabela 2: Causas da crise hídrica
 

Causas/Origens

Notícias que apontam causas

% *

Estiagem

83

72%

Má gestão/planejamento

24

21%

Alterações no clima

11

9%

Desperdício/perda

9

8%

Falta de investimentos

8

7%

Desmatamento

3

3%

Negligência

2

2%

Água como mercadoria/privatização

2

2%

Degradação das bacias (impermeabilização)

2

2%

Aumento da população

2

2%

Intensificação do uso do solo

2

2%

Falta de informação/educação

2

2%

Poluição

1

1%

*Porcentagem calculada com base no total de notícias que apresentam causas (116)

 

SOLUÇÕES?

Do total de notícias analisadas (196), 29% não trouxeram soluções para a crise hídrica. Considerando apenas das notícias que apontam uma solução para a crise (139),  46%  falam de saídas imediatas e urgentes como: redução do volume captado, produção de chuva artificial, racionamento, priorização do abastecimento humano, diminuição da pressão da água durante a noite, utilização do volume morto, perfuração de poços artesianos, contratação de caminhões pipa, instalação de caixas d’água) e 28% de planejamento (relacionadas à infraestrutura e obras, como transposição e integração de sistemas).

 

Tabela 3: Categorias de soluções

Categorias de soluções

Frequência total

% *

Medidas Urgentes

64

46

Planejamento

39

28

Educação/Campanha Educativa

31

22,3

Gestão da oferta da Água (e não da demanda)

18

12,9

Controle da Poluição e Tratamento de esgoto/água

13

9,3

Controle do Desmatamento

11

7,9

Redução de perdas físicas no sistema

11

7,9

Adoção de mecanismos financeiros para estimular uso racional

8

5,75

Planejamento dos reservatórios

5

3,5

Transparência/informação

2

1,4

*Porcentagem calculada com base no total de notícias que apresentam soluções (139)

 

O que se espera da mesa redonda?

Com o intuito de colaborar com o processo de transparência das informações sobre a real dimensão da crise hídrica pela qual está passando o estado de São Paulo, o debate é proposta para complementar o quadro que vem sendo noticiado pela imprensa no que diz respeito às causas da crise, identificar atores que deveriam ter papel relevante nesse contexto e identificar as soluções de curto, médio e longo prazo que devem ser tomadas e por quais instituições, além de se pensar nas melhores estratégias para a sensibilização da população, que em parte continua agindo como se água em abundância houvesse.

O resultado da conversa dará origem a um artigo síntese validado pelos especialistas e focado em oferecer informações qualificadas para a imprensa.

 

Especialistas convidados:

Rubens Filho –Coordenador de Comunicação do Instituto Trata Brasil.

Glauco Kimura – É coordenador do “Programa Água para a Vida”, da WWF-Brasil. Atuou como gerente do Programa Aliança dos Grandes Rios pela The Nature Conservancy e atualmente trabalha como Especialista em Recursos Hídricos pelo WWF-Brasil. 

José Carlos Mierzwa - Professor associado da Politécnica – USP.

José Luiz Albuquerque – É hidrogeólogo Pesquisador III do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT. É Professor de Mestrado na Coordenadoria de Ensino Tecnológico do IPT, onde é responsável pela disciplina “Uso Sustentável dos Recursos Hídricos e Minerais”. Representa o IPT na Câmara Técnica de Águas Subterrâneas do Conselho Estadual de Recursos Hídricos de São Paulo e do Comitê da Bacia dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiai (Estadual e Federal).

João Ramos – Assessor do prefeito Francisco Brito, do município de Embu das Artes

Lucia Sousa e Silva – Arquiteta e urbanista graduada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), mestre e doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo (PROCAM/USP). Tem experiência em pesquisas relacionadas ao meio ambiente urbano, especialmente ao processo de supressão de remanescentes vegetais nas áreas periféricas da Região Metropolitana de São Paulo, foco central de sua tese de doutorado.
Monica Porto – É Professora Titular da USP e pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. É diretora-presidente da Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica – FCTH. Foi presidente da Associação Brasileira de Recursos Hídricos e diretora da Intenational Water Resources Association. Tem experiência na área de Recursos Hídricos, com ênfase em Qualidade da Água.
Pedro Roberto Jacobi –  É Professor Titular da Faculdade de Educação e do Programa de Pós Graduação em Ciência Ambiental (PROCAM/IEE/USP) da USP. Assessor da Coordenação para o Doutorado do PROCAM/IEE/USP e membro do Conselho Diretor do IEE. Também é coordenador do Grupo de Pesquisa GovAmb USP e do Grupo de Estudos Meio Ambiente e Sociedade do Instituto de Estudos Avançados da USP.
Renato Tagnin – Arquiteto e urbanista, mestre em engenharia civil e urbana pela POLI- USP. É professor do SENAC-SP e  integrante do Coletivo Curupira. É membro de comissão técnico-científica do Movimento em Defesa da Vida do ABC e consultor nas áreas de planejamento urbano e ambiental, atuando principalmente nos temas de gestão de recursos hídricos, gestão ambiental, políticas públicas e saneamento ambiental. 
Stela Goldenstein – Diretora executiva da ONG Águas Claras do Rio Pinheiros. Foi Secretária do Meio Ambiente do Estado e do Município de São Paulo. Desenvolveu projetos e programas para gestão de recursos hídricos, desenvolvimento regional, planejamento urbano, saneamento, habitação e planejamento ambiental. 

 

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